Canção popular como abertura para a filosofia:
pensando com a Legião Urbana e os Engenheiros do
Hawaii
Marcos Carvalho Lopes*
É
inegável a importância que a música popular possui hoje na formação de
identidade dos alunos do Ensino Médio. Os adolescentes tomam letras de canções
(ou outros produtos da cultura pop como quadrinhos, séries de televisão, filmes
etc.) como fundamento para a construção de sua visão de mundo. Tais produtos
ocupam hoje um lugar privilegiado na cultura contemporânea e, por isso mesmo,
sua análise pode ser um convite para o desenvolvimento de uma perspectiva de reflexão
mais ampla como a proposta pela filosofia. Nesta oficina procuro justificar a
utilização da música popular como instrumento para o Ensino de Filosofia; mais
especificamente, do rock nacional tratando das bandas Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii. Duas grandes
narrativas podem se vincular a esta abordagem: uma que toma o rock como parte
da “criação da adolescência” com a trivialização de questionamentos existencialistas
e de uma postura romântica de autocriação (que se traduz na necessidade de
comprar certos produtos) e outra que toma o rock nacional dos anos 80 como um
momento decisivo de desenvolvimento da Utopia Lírica presente rock (principalmente na década de
1960) e na MPB (até a Era Collor). Estas duas narrativas geram um
interessante pano de fundo para o trabalho e debate do rico interdiscurso
presente nas letras das canções da Legião Urbana e dos Engenheiros do Hawaii.
Estes dois grupos traduziram seu tempo em canção. A Legião Urbana fez isso
a partir de uma postura épica e romântica, inspirada inicialmente pelo no
future da estética punk e pela crítica de Rousseau aos efeitos da técnica sobre
o desenvolvimento moral; mais tarde procurou um resgate do sagrado numa espécie
de politeísmo romântico, um discurso que foi soterrado pela
melancolia e decepção da Era Collor refletindo a crescente distinção entre publico e privado. Já os Engenheiros do Hawaii surgiram dentro de uma faculdade de arquitetura, marcados por uma perspectiva pós-moderna e pop, que, traduzida para o universo da música popular, questionava a dimensão épica da canção. Este questionamento e denúncia das engrenagens da indústria cultural por meio de produtos dessa mesma indústria gerou um discurso que se autoconsumia (até o paradoxo e colapso) inspirado no absurdo de Camus, e que, mais tarde, (em algumas letras) tornou-se denúncia dos mecanismos da sociedade de controle. Esta oficina apresenta (e desdobra em suas consequências didáticas) parte do trabalho que desenvolvi no livro Canção, estética e política: ensaios legionários (2012). Além do relato de experiência e das propostas de abordagem, a oficina apresentará exemplos de trabalhos didáticos desenvolvidos a partir de canções.
melancolia e decepção da Era Collor refletindo a crescente distinção entre publico e privado. Já os Engenheiros do Hawaii surgiram dentro de uma faculdade de arquitetura, marcados por uma perspectiva pós-moderna e pop, que, traduzida para o universo da música popular, questionava a dimensão épica da canção. Este questionamento e denúncia das engrenagens da indústria cultural por meio de produtos dessa mesma indústria gerou um discurso que se autoconsumia (até o paradoxo e colapso) inspirado no absurdo de Camus, e que, mais tarde, (em algumas letras) tornou-se denúncia dos mecanismos da sociedade de controle. Esta oficina apresenta (e desdobra em suas consequências didáticas) parte do trabalho que desenvolvi no livro Canção, estética e política: ensaios legionários (2012). Além do relato de experiência e das propostas de abordagem, a oficina apresentará exemplos de trabalhos didáticos desenvolvidos a partir de canções.